Cavalhadas de Vildemoinhos …
As cavalhadas de Vildemoinhos
têm a sua origem no ano de 1652. O rio Pavia que nos dias de hoje, quase não
tem significado, era nesta altura de 1652 era um rio
com alguma dimensão e pujante nas suas águas. Os agricultores necessitavam da
água para regarem as suas culturas e os "trambelos" (nome
porque eram conhecidos os habitantes de Vildemoinhos)necessitavam da água para
fazerem mover as mós que moíam os cereais em Vildemoinhos.
Num ano de seca os agricultores fizeram açudes e represaram a água do rio
Pavia, deixando esta de chegar a Vildemoinhos.
Nesta altura os pesados rodízios das 43 mós não se mexiam,
porque a água não corria no rio e assim os moinhos estavam parados. Os
moleiros queixavam-se dos agricultores que lhes roubavam a água, este
retorquiam que precisavam dela para regar as suas novidades. Desta
situação resultam vários tumultos, alguns graves, na primeira quinzena
de Junho. O caso parecia não ter resolução. As autoridades, nada
podiam fazer, não se atreviam a decidir nem a favor nem contra os moleiros. Os
moleiros na noite do santo Precursor, sob o pretexto de o festejarem,
reuniram-se pela madrugada, com gente da cidade, no terreiro do Maçorim e dali,
dirigiram-se à capela de São João da Carreira,
onde fervorosamente rezaram ao santo, rogando-lhe que desse ao
Pavia um volume de água. Os tumultos
repetiram-se e de tal maneira que foi necessário policiar a
estrada de Vildemoinhos. Mas os moleiros com a sua vontade de resolver
o problema, vão rio acima e destroem os açudes e põem de novo
a água a correr. Os moinhos tornam a moer assim está assegurado o sustento
deste povo. Os proprietários reclamaram ao juiz do povo. Os interpelados
responderam que nem frutas nem hortaliças faltavam na praça
e que o pão posto à venda era caro e não chegava para consumo. Segue-se
um recurso dos proprietários para as autoridades de Lisboa e estas
dão razão aos moleiros. A notícia desta sentença chega à câmara de
Viseu em 20 de Maio de 1653. Os moleiros
deliraram de entusiasmo e resolveram ir, na noite de 23 para
24 de junho, em luzida cavalgada a São João da Carreira, agradecer
ao santo. Para isso vestiram os seus melhor fatos, enfeitaram
de fitas burros e cavalos e puseram-se em marcha, com todos os
seus serviçais, atrás deles, armados de alavancas, sacholas e roçadoiras
bem encavadas, não fosse o diabo tecê-las pelo caminho. Em
São João da Carreira houve danças, cantares e louvores ao santo. Já a
manhã clareava quando o cortejo regressou à cidade, os cavaleiros e peões
recompostos com doces, vinhos e licores, Entram em grande entusiasmo
na cidade de Viseu pela porta dos cavaleiros, seguem pela Rua
Direita, Rua da Cadeia, Praça, deram duas voltas ao adro onde fizeram
três voltas de bandeira desfraldada, continuaram pela rua dos Loureiros,
praça Nossa Senhora dos Remédios, soar de Baixo e Rossio de Maçorim,
onde com grande fingida surpresa encontraram os seus serviçais
que à socapa, tinham seguido rio abaixo destruindo, represas e
açudes. Já com o sol alto, regressaram a Vildemoinhos, onde novo serviço
de doces e licores retemperou as fibras dos foliões. Mais tarde,
fez-se a festa votiva ao Santo Precursor, na capelinha nova. É a
esta vitória sobre os agricultores que os trambelos agradecem a São
João e renovam todos os anos as cavalhadas. Estas
festividades do povo, sempre tiveram o apoio e ajuda quer do clero
quer da nobreza esta última não se fazia de rogada e fazia questão
de se mostrar e conviver nestas cavalhadas de Vildemoinhos.
António José Coelho
Comentários
Enviar um comentário