Eu, abaixo assinado, declaro,
solenemente, que lutarei para que uma sociedade aberta ao conhecimento, não se
construa à margem da pergunta e da diferença, nem das histórias, do brincar ou
da conversa. Porque uma escola que fratura humanidade e conhecimento (ou que
divide os alunos, distinguindo os diferentes dos iguais ou os que aprendem dos
que têm necessidades educativas especiais) ouve mas não escuta, exige atenções
mas é desatenta. E, sendo assim, reclama-se inclusiva mas não será acolhedora.
E, declaro ainda, que lutarei (até que vença) para que se
reconheça - com respeito pela dignidade das pessoas e pelo futuro - que o
melhor indicador de sucesso educativo não é, nem nunca foi, a empregabilidade,
mas que será, para sempre, a sabedoria. Se a empregabilidade representa uma
visão de mundo, onde os valores do dinheiro fazem com que a paixão seja pilhada
e capitule, só quando sabedoria e trabalho se casam um com o outro, ligam a
humanidade dos gestos, a ousadia de nunca se deixar de perguntar «porquê?», a
lealdade de interpelar e de contrapor, o arrojo de pensar e a clarividência de
empreender, que distinguem quem ama (a vida, as pessoas e o conhecimento)
daqueles que, tenham os sonhos que tiverem, se resignam a ser, mansamente,
adaptados.
Eu, abaixo assinado, comprometo-me solenemente a estar distraído
sempre que um professor não tiver um jeitinho especial para me render aos
encantos do que ensina. E que farei por exigir autoridade a quem, somente,
exiba disciplina. E declaro, ainda, que, honrando isso, tudo farei para me
insubordinar contra todos aqueles que confundem democracia de oportunidades com
mediocridade e sucesso educativo com exigências minimalistas (que, ao adoçarem
as notas, mentem sobre a forma como todos temos, premeditadamente, descuidado a
educação). E declaro, por fim, que lutarei por demonstrar que aprender com
gosto é e fácil e é bonito, mas que o rendimento sem alma é humilhante e um
embuste.
E comprometo-me a reconhecer que a escola jamais será, unicamente,
um local para desenvolver (algumas) competências mas que ela serve, sobretudo,
para nos educarmos uns aos outros. E, só depois, para aprender. E que, sejam
quais forem as circunstâncias em que o exijam, nunca irei pactuar com essa
vertigem esquizofrénica que acarinha quem repete e que castiga quem copia.
Eu, abaixo assinado, declaro solenemente que a escola é um
formidável complemento aos cuidados da família e reconheço que muitos
professores, pela bondade e pela sabedoria com que nos iluminam, dão mais
crédito ao desafio do crescimento que muitos tios e que muitos pais. E que, por
isso mesmo, serei, para sempre, contra toda a educação que se dirija mais para
a vaidade do que para a admiração, onde as pessoas, depois de aprenderem, sejam
mais facilmente instigadas a reconhecerem os enganos dos outros do que a
aprenderem com os seus, e a subtrair (qualidades) do que a fazer a diferença.
Porque um mundo que acarinha as aparências em prejuízo da integridade (um mundo
onde a demagogia inquina a política ou o populismo enviesa a justiça) mascara e
mente mas não admira e não aprende. E um mundo assim terá na escola, para
sempre e por amor à verdade, um adversário que jamais se deixará vencer.
E comprometo-me ainda a empenhar-me para que pontos de vista
contraditórios nunca nos deixem de encaminhar para sínteses íntegras,
simultaneamente mais complexas e mais simples, mais singulares e mais plurais,
que não favoreçam a exibição do conhecimento mas que o desafiem para a
clarividência diante das dúvidas (e que reconheçam, com humildade, que tem
faltado fé ao conhecimento - fé nas pessoas e fé no futuro - e que conhecimento
sem boa fé não é conhecimento mas, antes e só, obscurantismo).
Por tudo aquilo que acabei de ler, que será objeto de juramento e
que irei assinar, declaro estar unicamente disponível para o regresso às aulas
(porque a escola são todos os lugares onde há quem nos ensine que quem aprende
com os erros nunca foge às responsabilidades. E que só assim se admira, se é
íntegro, se aprende e se educa).
Pais e
Filhos | Eduardo Sá
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