Educar com afeto? Sim. Mas também com bom senso e
respeito, transmitindo valores e impondo limites, com autoridade e sem medo.
Este é o mantra de um dos terapeutas e pedagogos mais respeitados em Espanha,
que fez carreira estudando o (mau) comportamento de crianças e jovens. Javier
Urra, 54 anos, esteve em Lisboa para participar numa conferência sobre os
desafios que se colocam aos pais de hoje. Antes de regressar a Madrid, falou à
VISÃO, revelando que planeia fundar um centro de reeducação juvenil na capital
portuguesa.
Num dos seus livros escreveu: "Não me preocupa
tanto que mundo vamos deixar às nossas crianças mas sim que crianças vamos
deixar a este mundo." Que geração estamos a criar, afinal?
Criámos aquela a que chamo "geração
cristal": são jovens aparentemente duros mas extremamente frágeis. Nos
últimos anos, houve uma tendência para a superproteção, tornando-os hedonistas
e egoístas, vivendo segundo a lei do "eu e só eu". Estas novas
gerações são também mais desligadas, hoje estão com este, amanhã com aquele,
agora aqui, depois ali... tudo é mais fluído, mais volátil, menos permanente.
Por isso, temos de educá-los para a sociabilidade, para que se interessem pelos
mais fracos, pelos diferentes, pelos mais velhos. Para que consigam colocar-se
no lugar do outro.
Que mais lhes deveríamos ensinar?
Vivemos num mundo em crise e em permanente mudança,
por isso temos de equipar as crianças de outra forma. Fazem falta airbags para
os encontrões da vida. Temos de torná-las mais flexíveis, adaptáveis, como se
fossem uma bola de espuma, que se amachuca mas retoma a sua forma. Há que
garantir que desenvolvem um pensamento otimista e alternativo, que serão
capazes de encontrar soluções perante imprevistos, estimulando a sua intuição,
imaginação e criatividade. Mas também assegurar que vão conseguir lidar com as
dúvidas, a dor e a tristeza. Não há por que esconder a morte ou a doença, temos
de ensinar--lhes que tudo isso faz parte da vida.
'O Pequeno Ditador' fez sucesso em Portugal - 33 mil
exemplares vendidos. O que pode indicar este número?
Se as pessoas compram o livro é porque o tema lhes
interessa. Em Portugal fala--se pouco do assunto, mas há uma geração que
cresceu fazendo o que queria, ditando as suas regras. Antigamente, as crianças
tinham medo dos pais e dos professores. Hoje, há pais que têm medo dos filhos.
O que se deve fazer para refrear as
"tiranias", logo às primeiras birras?
Há que definir critérios e ser coerente. Os miúdos vão
experimentando até onde podem ir, testam-nos hoje, amanhã, depois... É preciso
também dar o exemplo: eles aprendem, vendo. E não se pode instalar a sensação
de impunidade, há que insistir na ideia de que os atos têm consequências e
ensinar o significado do "não" - até para o saberem dizer, mais
tarde. Em Espanha, tal como em Portugal, há um problema grave de violência
doméstica que só mudará com a educação. As crianças têm de aprender a lidar com
a rejeição e a saber separar--se, senão continuaremos a ter muitos crimes passionais.
Os pais devem pedir ajuda se não conseguirem ter mão
nos filhos?
Sim, até porque há casos com patologias associadas. Há
crianças com fobias, psicoses, depressões... quando chegam à adolescência, são
jovens transtornados, que se automutilam ou batem na mãe. Em Espanha, criei uma
linha de apoio psicológico gratuito, que também se pode marcar a partir de
Portugal (0034 900 656 565), e um centro de reeducação, com um programa
intensivo de cuidados individualizados. Quero abrir um centro semelhante em Lisboa
e estou a fazer contactos nesse sentido.
Como reeduca esses jovens?
Dou-lhes, sobretudo, regras apertadas. Levantam-se às
7 e 30, tomam duche e pequeno-almoço, estudam quatro horas. A maioria já nem ia
à escola, os pais não conseguiam obrigá-los. Este tipo de comportamento começa
cedo, com coisas menores. Por exemplo, são miúdos que se despem e largam a
roupa no chão. Habituaram-se a ter alguém para apanhá-la. No centro, reaprendem
todas essas coisas básicas. E há, claro, muita terapia de grupo e individual.
Os pais serão permissivos por se sentirem culpados,
por estarem pouco tempo com os filhos?
Sim. Muitos querem comprar o seu afeto e não instituem
regras, ignorando o preço que pagarão mais tarde. Quando se diz a uma criança
de 2 anos para arrumar um brinquedo, ela tem mesmo de arrumá-lo. É aí que tudo
começa. Mas se as famílias têm menos tempo, a verdade é que se preocupam mais
do que se ocupam. Estão sempre a correr para o pediatra, porque fez isto ou não
fez aquilo... Há que descontrair. Viver com os filhos e não para os
filhos. E desfrutar: eles crescem muito depressa.
Achei este texto bastante informativo para as crianças e principalmente para os adultos!
ResponderEliminarEste tipo de conselhos são muito úteis para o dia-a-dia dos pais.
:)