Era uma vez!…
Podia já contar-se assim, ao jeito das avós de antigamente, a
história das Cavalhadas de Vildemoinhos, uma história de espantar, “uma
história de pasmar”, como a da Nau Catrineta, onde mora a aventura e o denodo
dos heróis de que ninguém guardou o nome, de quem ficou só vaga memória. Só
que, aqui, os heróis eram moleiros, as águas não de mar mas de ribeira e os
caminhos não iam mais longe que as duas a três léguas de Viseu.
Era
uma vez, tempos idos, de lenda, mesmo que em história situados, era uma vez um
povo em que todos ali eram moleiros ou traziam da farinha o ganha-pão. O motor
das suas vidas era a água da ribeira que num certo ano rareou quando estava
ainda bem distante a secura do pino do Verão. Os campónios de arrabalde, na
cidade, que sempre diziam que era ouro a chuvinha caída no estio, desviaram
para as hortas, com açudes, as águas que sempre foram livres da Ribeira do
Pavia. E tal foi um motivo de contenda, camponeses e moleiros batalhando cada
um por sua lei. Que saibamos, ninguém se magoou, apenas os moleiros levaram a
questão ao tribunal do rei. Ouviu o rei, decerto, as duas partes, e fez de bom
juiz como fora outrora Salomão, e a sentença que ditou entregava, sem partilha,
a água que corria aos moleiros, por melhor intercessores.
Não
se sabe se as padeiras levaram ao rei pão da fornada. Talvez sim, porque a
gente, ali, é honrada e sabe ser agradecida. A prova está na promessa feita ao
seu patrono, a S. João. Eterna promessa de visitar, ano a ano, como ex-voto, a
capela, ela também dedicada a S. João, que devotos levantaram na margem da
ribeira, a montante, bem perto da mãe-de água que, que a gente saiba, nunca
mais secou.
Garbosos
cavaleiros, reverentes, partem de manhã, logo que o rumor da gente anuncia as
festivas Cavalhadas, marcam o caminho que há-de fazer a travessia da cidade e
enquanto o Cortejo popular repousa ao longe ao jeito de romeiros descansando em
descampado, os cavaleiros fazem as três voltas costumadas pelo adro da capela,
na Carreira, assim ficou a chamar-se aquele lugar e retornam, dando cumprimento
ao resto da missão. E por mil anos haverá de ser desta maneira.
Bela história... gostei muito!
ResponderEliminarAinda bem que este ano tive o prazer de participar nas Cavalhadas!
É muito divertido!!!
:)