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Todas as crianças têm o direito a ser crianças. E têm o direito a crescer livres, mas com regras, num país amigo das crianças

Todas as crianças têm o direito a um país cuja Lei do Trabalho preveja que as consultas de obstetrícia sejam, também, uma obrigação de todos os homens à espera dum bebé. Onde as crianças não tenham de sair cedo demais de casa. E onde os berçários e os jardins-de-infância sejam, tendencialmente, gratuitos e para todos, sendo reconhecidos como uma condição essencial para que a educação seja melhor, mais plural e mais bonita.
Todas as crianças têm direito a uma escola que as eduque, antes de instruir. Onde não passem tempo demais, todos os dias. Em que as aulas não sejam tão grandes como têm sido e se poupe nos trabalhos de casa. E em que os recreios sejam maiores em tempo e melhores nas condições de segurança e nos recursos que põem ao dispor de todas as crianças.
Todas as crianças têm, também, direito a livros escolares gratuitos, para todo o ensino obrigatório, que sejam, idealmente, propriedade de cada escola, sendo as crianças obrigadas a acarinhá-los, todos os dias, porque só quando o conhecimento passa de uns para outros, e se trata com cuidado, nos torna sábios.
Numa escola amiga das crianças os professores contam histórias e acarinham, quando ensinam. E haverá, por isso, um quadro de honra para todos os alunos faladores. Porque uma escola que não fala e não escuta vive assustada e fechada sobre si. E, se for assim, educa mal. E não é escola.
Numa escola amiga das crianças todas elas estão obrigadas a ser agressivas. Com maneiras. E a ser leais, umas com as outras. Numa escola amiga das crianças as que fazem queixinhas, a torto e a direito, os alunos exemplares, os alunos solitários e mal-educados, os alunos violentos, e aqueles que repetem mas não pensam são crianças cujos pais têm necessidades educativas especiais. Devem, portanto, ser ajudados. Mas se, teimosamente, não quiserem perceber os perigos com que magoam os filhos, talvez não merecem ser pais.
Num país amigo das crianças, todas elas têm direito a tempo livre. Sem a tutela permanente dos seus pais. E sem ateliês onde façam os trabalhos de casa, onde vejam televisão e onde  tenham de estar quietas e caladas. Aliás, num país assim, todas as crianças terão direito a conversar. Porque só quando se pensa com os outros, conversando com os botões e em voz alta, ao mesmo tempo, se aprende a crescer.
Num país amigo delas, todas as crianças têm direito a brincar. Todos os dias, sem direito a férias, pontes ou feriados. E a brincar com um dos pais, 30 minutos, de segunda a domingo. Têm, também, o direito a ser filhas únicas dos seus pais, uma vez por semana, por um bocadinho. E a ter os pais, ao jantar e depois dele, sem telemóveis e sem televisão, só para a família.
Num país amigo das crianças, todos os pais que achem os filhos sobredotados, devem ficar, de vez em quando, de castigo. Porque (sem quererem, certamente) não percebem que todas as crianças (mas todas, mesmo) têm uma ou outra necessidade educativa especial. E que, pior que não a corrigir, é disfarçá-la com tudo aquilo que, supostamente, se faz bem. E não percebem, também, que as crianças que eles acham normais, só parecem mais adormecidas porque as pequenas maldades e os desamparos, a zanga sem fim e a tristeza dos pais, quase todos os dias, lhes traz (ao coração e à cabeça) um ruído de fundo que atrapalha o pensamento. Para além disso, todos os pais que - mesmo dizendo «posso estar enganado...» - acham que os seus filhos têm uma personalidade muito forte, devem ficar de castigo duas vezes, porque baralham a convicção, que vem de dentro, com a teimosia que faz «braços de ferro», por tudo e por nada com quem está fora. Mas, se por infelicidade, os pais insistirem em ser simplesmente, bonzinhos e prestadores de serviços (em vez de pais) estão poupados a todos os castigos, porque não há nada que doa mais que um principezinho que se transforma num pequeno ditador e, de imposição em imposição, chega à adolescência como grande tirano.
Eduardo Sá

Comentários

  1. Adorei ler o texto!
    E também adorei a frase " Todas as crianças têm direito a ser crianças", nunca me vou esquecer!
    :)

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